segunda-feira, 3 de junho de 2013

Livros Que Não São O Que Parecem – A Divina Revelação Do Inferno


Se a resenha anterior, da infinita série “Livros que não são o que parecem” era de uma ficção não-religiosa, a desta semana não poderia ser mais religiosa. Há algumas semanas, nossa leitora Andressa me perguntou a respeito desse livro, que ela leu quando era de outra denominação. Aproveito para usá-lo como representante de todos os outros livros contemporâneos de gente que diz que foi para o céu ou para o inferno.
Infelizmente, as igrejas evangélicas estão cheias desse espírito de adivinhação, que se faz passar pelo Espírito Santo. Eu já estive em outras denominações, conheço de perto as coisas contra as quais falo aqui e lhes garanto que se elas não fossem prejudiciais à salvação certamente nem seriam mencionadas.
A Bíblia nos fala claramente sobre o inferno. Diz que o inferno não foi feito para os seres humanos, mas para o diabo e os demônios. Depois que o homem desobedeceu a Deus e passou a seguir o diabo, suas próprias ações o levam ao inferno, a menos que se arrependa e aceite a salvação oferecida por Jesus. Jesus descreve o inferno como “fogo inextinguível, onde não lhes morre o verme, nem o fogo se apaga” (Marcos 9:45,46). Sabendo disso, nossa vontade é convencer a todos de que o inferno existe, para que eles não passem a eternidade lá, correto? O problema é quando, movidas por essa vontade, pessoas inventem “revelações” e “profecias” absurdas que descrevem viagens astrais ao céu ou ao inferno. Na verdade, a julgar pela quantidade de relatos e descrições existentes, o inferno é um destino turístico bastante requisitado.
Vamos ao livro, então. Eu tenho algumas teorias em relação a Mary Baxter, que escreveu esse livro “A divina revelação do inferno” e outras “divinas revelações”. Lendo, às vezes eu achava que ela tinha inventado tudo. Outras vezes, eu achava que ela não batia muito bem e tinha escrito o resultado de um delírio em um surto psicótico (tem essa, também, abre espaço a pessoas mentalmente desequilibradas, que alcançam o posto de “profetas” sem que ninguém lhes prove o espírito). Outras vezes, parecia que ela escreveu o resultado de uma perturbação demoníaca, do espírito que a acompanha (tipo aquela freira perturbadíssima, que teve visões da via crucis – em que Mel Gibson assumiu ter se baseado ao fazer o filme “A Paixão de Cristo”).
Talvez uma combinação das três hipóteses: Ela não bate bem, teve uma experiência sobrenatural maligna e resolveu dar uma “ajudinha” ficcional, aumentando aqui e ali. Talvez ela acredite mesmo que isso tenha acontecido. Mas uma coisa é certa: Mary Baxter nunca esteve no inferno, nunca viu Jesus, muito menos recebeu revelação alguma de Deus.
Aliás, tome muito cuidado com essa coisa de revelação, profecia, visões e sonhos. Sabe aquelas pessoas que impostam a voz e dizem: “Meu seeervo, eu sou o Senhor…” ? Então, eu não tenho nenhum receio de afirmar: não é o Senhor coisa nenhuma. Esse espírito de adivinhação tem dirigido muitas igrejas e desgraçado muitas vidas por aí através da religiosidade, e é desmascarado por seus frutos. Igrejas que estão cheias de fofocas, intrigas, ódio, hipocrisia, histeria e emocionalismos. Lembro que minha sogra contava a história de uma mulher da igreja dela, que dizia: “Não faço nada sem consultar a irmã fulana. Ela é minha guru.”

  ”Além disso, por um período de 30 dias Jesus levou-me ao inferno. O Senhor apareceu à mim em 1976 e disse-me que eu havia sido escolhida para uma missão especial. Ele disse: “Minha filha, me manifestarei a você para que tire as pessoas da escuridão para a luz. OSenhor Deus a escolheu com o objetivo de escrever e registrar as coisas que lhe mostrarei e falarei. Vou revelar-lhe a realidade do inferno, para que muitos possam ser salvos, muitos se arrependam dos seus maus caminhos, antes que seja tarde. Sua alma será tirada do seu corpo por mim, o Senhor Jesus Cristo, e transportada ao inferno e a outros lugares que eu quero que você veja. Mostrarei também a você algumas visões do céu e outros lugares, e lhe darei muitas revelações.”
 

 Vamos por partes. Jesus esteve aqui na Terra e sabia que isso ficaria registrado em quatro livros, certo? Se era tão importante assim dar detalhes sórdidos sobre o inferno, por que Ele não o fez enquanto estava por aqui? Por que não baseou seus ensinamentos nisso? Aliás, eu considero que o que ele achava importante dizer sobre o inferno, ele disse. E o fato de não ter dito muito me mostra claramente que seu maior interesse não era ter pessoas que o seguissem por medo do inferno, mas por amor ao Reino de Deus.
O Jesus de Mary Bexter fala muito parecido com ela mesma. Eu, sinceramente, não vi grande diferença entre os dois personagens. Sem contar o apelo emocional! Não serve para ganhar almas, serve para desenvolver a fé emocional e o apego artificial a Deus por medo do inferno. Se eu fosse incrédula, teria ficado mais incrédula ainda ao ler esse livro.
Outra coisa estranha é que furou o disco do Jesus que acompanhava a mulher. “você está aqui para que o mundo saiba que o inferno é real”, “o que você está vendo é real”, “o inferno é real”,  “isso é real”, “o mundo deve saber que é real”. Pretende convencer pela repetição?

‘O homem continuou: “Senhor, algumas pessoas da minha família acabarão vindo para cá, porque também não se arrependerão. Por favor, Senhor, deixe-me ir dizer a eles que devem se arrepender de seus pecados enquanto eles ainda estão na terra. Não quero que eles venham para cá.” Jesus respondeu: “Eles têm pregadores, professores e pastores —todos ministrando o Evangelho. Esses falarão a eles. Eles também têm as vantagens dos modernos meios de comunicação e muitos outros meios para aprenderem de Mim. Eu enviei obreiros para que eles possam crer e serem salvos. Se eles não acreditarem no Evangelho, tampouco serão convencidos, mesmo que alguém se levante dos mortos.”
 

Opa! Plágio! Plágio! Já li isso em algum lugar…mas em vez de Jesus, era Abraão…lembra da história do rico e do Lázaro?

 ”No inferno, estando em tormentos, levantou os olhos e viu ao longe a Abraão e Lázaro no seu seio. Então, clamando, disse: Pai Abraão, tem misericórdia de mim, e manda a Lázaro que molhe em água a ponta do dedo e me refresque a língua, porque estou atormentado nesta chama. Disse, porém, Abraão: Filho, lembra-te de que recebeste os teus bens em tua vida, e Lázaro igualmente, os males; agora, porém, aqui, ele está consolado, e tu em tormentos. E, além de tudo, está posto um grande abismo entre nós e vós, de sorte que os que querem passar daqui para vós outros não podem, nem os de lá passar para nós.
 
Então replicou: Pai, eu te imploro que o mandes à minha casa paterna, porque tenho cinco irmãos; para que lhes dê testemunho, a fim de não virem também para este lugar de tormento. Respondeu Abraão: Eles têm Moisés e os profetas; ouçam-nos. Mas ele insistiu: Não, pai Abraão, se alguém dentre os mortos for ter com eles, arrepender-se ao. Abraão, porém, lhe respondeu: Se não ouvem a Moisés e aos Profetas, tampouco se deixarão persuadir, ainda que ressuscite alguém dentre os mortos. “(Lucas 16:23-31)
 

Em vários pontos do Novo Testamento, cita-se “Moisés e os Profetas” como sinônimo de “Escrituras Sagradas” (Lucas 24:44, Atos 28:23) Ou seja, Abraão estava dizendo que se a Palavra de Deus não era suficiente, então não adiantaria mandar mais ninguém! Ao copiar esse trecho Bíblico, o Jesus de Mary Baxter se contradiz. Porque se não se convencerão mesmo que alguém se levante dos mortos, o que Mary foi fazer no inferno?
O livro segue um padrão. Cada capítulo começa descrevendo a fisicamente a parte do inferno em que ela está. Depois, uma alma específica chama-lhe a atenção. As pessoas fazem discursos no inferno, contando como foi a vida delas e como morreram. No final, ela faz um pequeno apelo ao leitor, condizente com a situação da pessoa que discursou. É tão padrão que é impossível acreditar até que tenha sido um delírio. Ela inventou, mesmo.
Para completar, o Jesus de Mary Baxter a abandona e ela é arrastada por demônios. Torturada, sente dores horríveis, como a carne sendo arrancada de seu corpo… Quando ele finalmente volta:

 ’Jesus respondeu carinhosamente: “Minha filha, o inferno é real, mas você jamais poderia ter certeza plena até que você mesma o experimentasse. Agora você conhece a verdade e sabe o que é estar perdida no inferno. Agora pode falar aos outros sobre ele. Tive que deixar você passar por tudo isso, para que você viesse a conhecê-lo sem nenhuma dúvida.”‘
 

Legal ele, né? Bem, essa foi a parte que me deu vontade de mandar Mary Baxter para a sessão do descarrego:

 ”Quando acordei no dia seguinte, estava muito doente. Durante quatro dias eu recordei os horrores do inferno com os seus tormentos. Durante a noite eu acordava gritando e dizendo que haviam vermes rastejando em mim. Fiquei com muito medo do inferno. Fiquei doente por muitos dias após ter sido largada nas mandíbulas do inferno. Tinha que dormir com a luz acesa. Precisava ter a Bíblia comigo o tempo todo e a lia constantemente. (…) Jesus dizia: “A Paz, aquieta-te” e a Paz entrava em minha alma. Mas, poucos minutos depois eu acordava gritando, histérica de medo. (…) Sentia tanto medo de voltar ao inferno, que tinha até medo algumas vezes de ter Jesus perto de mim”
 

Como se tudo isso não fosse o bastante, o livro termina com uma “visão” de um futuro muito doido, e foi a parte que me fez achar que Mary simplesmente teve uma crise psicótica. Distopia, Big Brother (livro 1984, de George Orwell) e apagador de mentes:

 ”Quando olhava, vi um outro homem no escritório muito zangado com a besta. Ele exigiu falar com ele (a besta é um homem). Ele gritava com toda força. A besta apareceu e parecia bem educado quando disse: “Vem , posso ajudá-lo a resolver os seus problemas.”
 
A besta levou-o, então, para uma sala grande e pediu que se deitasse numa mesa. A mesa e a sala lembravam uma sala de emergência de hospital. Deram-lhe uma anestesia e o transportaram para uma máquina grande. A besta prendeu alguns fios na cabeça do homem e ligou a máquina. Na parte superior da máquina estavam as palavras: “Este apagador de mentes pertence a besta, 666.”
 
Quando o homem saiu da mesa, seus olhos tinham um olhar vazio e seus movimentos lembravam os de um zumbi num filme. Vi uma grande mancha branca no alto da sua cabeça, eu sabia que a sua mente tinha sido cirurgicamente alterada, para que deste modo ela pudesse ser controlada pela besta. A besta disse: “E agora, senhor, não está se sentindo melhor? Eu não lhe disse que cuidaria de todos os seus problemas? Eu dei-lhe uma mente nova. Não terá mais problemas nem preocupações.”
 
O homem não respondeu.”
 

A prova final de que Mary Baxter sem noção inventou tudo isso é o seguinte trecho, que ela escreve antes de descrever sua experiência de ser torturada pela segunda vez (ah, é, o “Jesus” a abandona pela segunda vez, sem explicação plausível):

 “O que você vai ler agora, o deixará assustado. Oro para que isto o assuste o suficiente para fazer de você um crente. Oro para que você se arrependa de seus pecados, a fim de que nunca venha para este lugar.”
 

Comoassim, Mary? “Oro para que isto o assuste o suficiente para fazer de você um crente”?? Então um crente nada mais é do que um incrédulo assustado? Veja o perigo de se tentar fazer a obra de Deus na força do braço.  Sinceramente, me dá vergonha alheia de quem escreve uma coisa dessas.

PS:  Essa resenha deu alguns filhotinhos. Tem mais um trechinho deste livro em outro texto, ainda mais absurdo e perigoso, “Pessoas não são demônios”. (Clique aqui para ler). E o texto “Sobre viagens ao inferno e ‘Profecias’ em geral” Clique aqui para ler.

2 comentários:

  1. Este comentário foi removido por um administrador do blog.

    ResponderExcluir
  2. Críticas devem ser feita diretamente a autora do post: (Vanessa Lampert)
    ou na postagem original veja o Link acima, no final da postagem.

    ResponderExcluir

Quem sou eu

Minha foto
São Paulo, Brazil
Quero aqui repartir com todos um conteúdo de mensagens para reflexão e edificação espiritual, o nosso objetivo é ganhar almas para o nosso Senhor Jesus... Se de alguma maneira esse blog puder ajudar ao menos uma pessoa no mundo todo, na caminhada pela salvação, já me sinto gratificado... "Fiz-me tudo para todos, para por todos os meios chegar a salvar alguns. E eu faço isto por causa do evangelho, para ser também participante dele." (I Corintios 9:22,23)

Veja Também

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...